"A Origem
dos Atos de Vandalismo"
Quem é o vândalo? Ou melhor, que coisa é o vândalo? Para
irmos mais fundo ao assunto e provocarmos a reflexão do leitor que deve
procurar responder essas duas questões.
Assistimos perplexos, pela mídia ao vivo, as manifestações
públicas justas sobre as questões básicas do nosso cotidiano como: transporte
público precário e caro, saúde sem atendimento adequado, educação deficitária,
excesso de impostos, corrupção, etc. Atos que devem ser normais num país
democrático.
Por que a perplexidade? O que se destaca na divulgação da
mídia não é a causa justa de reivindicação, que não é expressa claramente pelos
mentores e organizadores das mesmas. Ao concitarem, pela internet, a adesão às
manifestações publicas as normas, as regras para a participação não ficam
estabelecidas, não são claras. É a brecha para se infiltrarem os vândalos.
Mas voltemos às questões iniciais: O que ele é e quem é ele?
São adolescentes e jovens adultos, certamente provenientes de lares
desajustados moralmente, foram criados sem regras, sem limites, sem princípios morais,
sem ética, não se submeteram a autoridade normal paterna e materna,
estruturaram sua personalidade sem valores morais sólidos, baseado no exemplo
dos adultos, numa evidente falta de educação, no verdadeiro sentido da palavra,
que é extrair do âmago do individuo suas
potencialidades positivas.
Na escola
regular pública foram instruídos num ambiente decadente, feio, por professores
descontentes pela falta de valorização profissional e a escola mesmo possuindo
um projeto políticopedagógico, bonito, bem escrito, mas por falta de recursos
de toda a ordem, não aplicado na integralidade. Escola onde falta estrutura e
professores preparados para desenvolver as dimensões da inteligência moral,
emocional e espiritual do aluno, mas privilegiando a dimensão racional do mesmo,
não o humanizando.
O
vândalo é, na verdade, um animal racional somente. Ele não está humanizado pela
educação, pela boa cultura. É um animal, com forma humana, que pensa,
raciocina, não tem mais garras nem dentes caninos salientes e pontiagudos por
causa da evolução da espécie da qual se originou, mas, ele usa armas para substituírem
suas garras: paus, pedras, bombas, fogo, revolver, tintas, para atacar,
destruir o que ele encontra e está inerte ou indefeso. Não é o que vimos pela
projeção dos canais de TV?
Os vândalos
não foram humanizados pela educação, pertencem a todas as classes sociais,
muitos são órfãos de pais vivos, omissos que não os educaram e os abandonaram
emocionalmente e moralmente na vida.
Esses seres, irmãos nossos em humanidade, precisam, antes de
tudo, de ajuda, de correção, de educação. Eles estão gritando, na sua
insanidade, que foram relegados moral e espiritualmente pelas famílias, pelas
escolas e pelo Estado.
Precisamos parar para discutir a questão, refletir, mas
especialmente agir. A tolerância ao erro, ao equivoco, a depredação deve ser zero,
desde a mais tenra infância, no lar, depois na escola e na sociedade. Na
verdade, muitos se omitem, por comodismo ou outros interesses, da sua
responsabilidade de educar, exercer a sua função legítima de autoridade, começando no
lar, pelos pais, depois na escola, pelos professores, depois na sociedade pelas
instituições sociais e públicas.
O que vimos na noite do dia 17 de junho de 2013 em Porto
Alegre? Os vândalos, verdadeiros animais, em pequenos bandos, agindo isoladamente,
sem nenhuma coerção, destruindo o que encontravam pela frente, tanto patrimônio
público ou privado. Observamos não só pela TV, mas pela janela de nosso
apartamento na Cidade Baixa, jovens bem vestidos, sadios fisicamente, sarados,
alguns escondendo o rosto com toucas, outros rindo ironicamente, aparentando
uma felicidade bestial com a desordem provocada. Ouvimos seus gritos surdos
pela acústica de nossa percepção emocional: Socorro! Estamos perdidos, nos
ajudem, somos o resultado do que a família, a escola, a sociedade e o Estado
fizeram de nós. O que vamos fazer com o que fizeram de nós?
Precisamos, urgentemente, acordar como pais, educadores e
gestores públicos para salvar nossas crianças e jovens de nossos equívocos educacionais
e ajudá-los a se humanizarem para que a pergunta: O que eu vou fazer do que fizeram
de mim possa mudar, quando eles forem reeducados para: O que eu escolho fazer
do que fizeram de mim?
Na educação encontramos a chave para resolver o aflitivo
problema moral que vive a sociedade humana. Quantos jovens, diariamente são
lançados na sociedade humana para se assumirem como cidadãos sem preparo
adequado para tal. Eles não sabem agir de forma democrática e pacífica,
reivindicando justiça social, como a maioria consegue fazer.
Mesmo essa maioria de adolescentes e jovens adultos já
humanizados pela educação, no lar, na escola e na vida social não tem
demonstrado clareza no objetivo de suas reivindicações. A contestação é marca
registrada da adolescência. Mas ele não deve intimidar a autoridade legitima de
exercer a sua função de forma eficiente.
Gladis Pedersen
Oliveira,
Pedagoga,
Especialista em Educação,
vice presidente Conselho
do Ensino
Religioso do Rio Grande do Sul (CONER/RS).
As fotos abaixo foram publicadas no site ZERO HORA:
Manifestação frente Prefeitura Porto Alegre.
Crédito: Jefferson Botega/Agencia RBS
Policia acompanham o protesto
Crédito: Adriana Franciosi/Agencia RBS
Manifestantes depredaram loja e arrastaram contêineres durante o protesto.
Crédito: Jefferson Boteja/Agencia RBS