No Século XVII, as doutrinas existentes já não satisfaziam as necessidades espirituais da sociedade humana. Os dogmas obscurantistas ao se permearem com os ensinos de Jesus reduziam grandemente o fulgor de seu Evangelho de perdão, de amor e de sabedoria. Havia, portanto, a necessidade urgente de emergir uma nova doutrina capaz de restabelecer a verdade que tinha sido velada pela ignorância dos séculos e trazer idéias novas para os homens do futuro.
O trabalho a ser desenvolvido pela espiritualidade superior era complexo e de longo curso pois já se sabia, de há muito tempo, que o Consolador prometido pelo Cristo viria e que a época se aproximava com celeridade. A escolha dos países do momento mais propício, do missionário especializado para a tarefa e das precauções com as possíveis variantes e demais imprevistos de jornada eram cuidadosametne analisados pelos prepostos do Nazareno.
Destacava-se, nesse projeto, a escolha da figura humana que se responsabilizaria pela sua implementação no seio da sociedade, bem como seus auxiliares diretos e indiretos, na árdua tarefa de estabelecer as bases de uma singular doutrina filosófica, pois os novos princípios, seriam capazes de abalar os alicerces religiosos das instituições vigentes. Teria que possuir a mente aberta para as idéias novas e a coragem necessária para enfrentar os desafios no futuro, bem como a sabedoria para discernir entre o falso e verdadeiro, naquele cipiol de informações que chegaria às suas mãos venerandas. Sim, porque uma doutrina mesmo que consistente não teria o alcance necessário se a mesma fosse colocada de uma forma descuidada e sem o aprofundamento imprescindível.
Foi assim, então, que reencarna a 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon na França,( portanto a 207 anos), um menino chamado Hippolyte Léon Denizard Rivail, sob cujos ombros estaria reservada a tarefa de organizar, sob a égide dos espíritos superiores, a doutrina que ofereceria uma nova visão de mundo para a humanidade. Filho de uma família culta, voltada para a magistratura, ele foi qualificar sua educação em Yverdum, na Suiça, com o célebre pedagogo João Henrique Pestalozzi. Recebeu lá uma educação cuidadosa e formadora de seus alicerces intelectuais e morais. Tornou-se bacharel em ciências e letras, poliglota, autodidata em medicina e astronomia, escritor e pedagogo de nomeada. Estava assim, preparado cultural e moralmente o nobre missionário da renovação.
O tempo passa e o insigne professor Rivail começa a estudar os estranhos fenômenos que ocorriam em Paris, os quais resultariam na codificação da Doutrina Espírita, a partír da qual, surge a figura esplendorosa de Allan Kardec, pseudônimo que o prof. Rivail passa a adotar com o lançamento de O Livro dos Espíritos.
A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa, como diria Emmanuel, porque competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença.
O próprio Kardec diria certa vez que um missionário "não é o que parte com um encargo e sim o que regressa, triunfante, após o desempenho", e foi justamente o que ocorreu com a sua tarefa. Ele a recebeu com uma coragem ímpar, desincumbindo-se dela com desenvoltura e regressa triunfante a pátria espiritual. O Espiritismo na atualidade está ai, crescendo gradativamente e se estruturando em bases sólidas em todos o mundo. Seus princípios já fazem morada na mente das pessoas. Vemos, assim, a crença em Deus, na visão da Doutrina Espírita, ser estudada pela ciência, os estudos sobre imortalidade da alma, a reencarnação já é pesquisada em vários países, os fenômenos mediúnicos são mais conhecidos e já se descortina um trabalho a respeito da pluralidade dos mundos habitados. No Brasil, o Espiritismo avança celeremente a partir de uma organização elaborada e o mundo vê a formação gradativa do Conselho Espírita Internacional.
Ave Kardec, nós te saudamos, te agradecemos e te apresentamos atualmente uma Doutrina Espírita em franco progresso. Duzentos e sete anos após a tua chegada entre nós vê-se o Espiritismo ser estudado por milhões de adeptos no mundo e se tornar, gradativamente, um grande auxiliar na transformação moral da sociedade humana o que, por sinal, era o que tu mais almejavas para os povos da terra.
Este texto é o Editorial da revista Reencarnação nº 428 - 2º semestre 2004, órgão de divulgação da FERGS (Federação Espírita do Rio Grande doSul), essa edição da revista foi em homenagem aos 200 de nascimento de Kardec - 1804 - 2004.
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